Ainda lembro do meu tempo de criança, quando adormecia ouvindo minha mãe costurando as profusas semicolcheias de "Apanhei-te Cavaquinho", que se multiplicavam no agudo do piano da sala de casa, onde nasci e cresci; naquele mesmo piano de onde brotava sem preconceito um noturno de Chopin, uma valsa de Jobim, um rag de Joplin – e o tudo muito de Ernesto Nazareth, claro. E assim, livre e solto de qualquer nome prejudicial, esse repertório me nutria continuamente de influências das mais variadas e tudo isso se reflete na maneira como faço e entendo música hoje. Neste meu projeto, a obra humanista de Nazareth revela e convida ao baile esse amplo espectro de músicas e sons que me fascinam e assombram desde o útero: e se amalgamam no mais sagrado lugar do meu ouvido-coração musical, para homenagear com viva gratidão o pianeiro-mestre-inventor em sua contínua e necessária mestiçagem que receberá sempre novas cores e leituras. Essa Música (que não é nem nunca será objeto de museu) quer e pede claramente por isso. Ainda lembro do meu tempo de criança como se fosse hoje...
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