ANDRÉ MEHMARI
PIANO SOLO
O pianista-compositor André Mehmari tem feito recitais inteiros improvisados, contando com as sugestões e palpites do público presente.
Criando verdadeiras suites em tempo real com estes temas, Mehmari envolve a platéia de um modo intimista. Assim, todos participam da criação e compartilham dos desafios do pianista ao abarcar repertórios por vezes muito distantes e contrastantes.
As composições instantâneas criadas com técnica, bom humor e brilhantismo refletem portanto o estado de espírito do músico e também do público presente. Recitais improvisados eram uma prática comum na era dos grandes pianistas-compositores do final do século 19. Aos poucos o improviso acabou se tornando uma arte mais ligada ao jazz e às músicas populares e se distanciou das salas de concerto, na medida em que o papel criativo se deslocava unicamente para a figura do compositor. Mehmari, com sua ampla experiência como compositor e arranjador para grandes orquestras, traduz para o teclado do piano toda essa carga cultural, através de uma linguagem contemporânea sem fronteiras, uma marca de sua poética musical desde sempre.
Recital Piano
Improvisado
...Ainda lembro do meu tempo de criança, quando adormecia ouvindo minha mãe costurando as profusas semicolcheias de "Apanhei-te Cavaquinho", que se multiplicavam no agudo do piano da sala de casa, onde nasci e cresci. Naquele mesmo piano de onde brotava sem preconceito um noturno de Chopin, uma valsa de Jobim, um rag de Joplin – e o tudo muito de Ernesto Nazareth, claro.
E assim, livre e solto de qualquer nome prejudicial, esse repertório me nutria continuamente de influências das mais variadas e tudo isso se reflete na maneira como faço e entendo música hoje. Neste meu projeto, a obra humanista de Nazareth revela e convida ao baile esse amplo espectro de músicas e sons que me fascinam e assombram desde o útero: e se amalgamam no mais sagrado lugar do meu ouvido-coração musical, para homenagear com viva gratidão o pianeiro-mestre-inventor em sua contínua e necessária mestiçagem que receberá sempre novas cores e leituras. Essa Música (que não é nem nunca será objeto de museu) quer e pede claramente por isso. Ainda lembro do meu tempo de criança como se fosse hoje...